Sexta-feira pré-carnavalesca, já próximo da meia-noite, estava eu à espera de uma pizza. Do meu lado sentou uma senhora, que estava acompanhada de uma mulher jovem, em pé.
- Nossa, hoje a gente andou muito. Para terminar, ainda subimos toda a rua, até a Livraria Cultura, no Conjunto Nacional - disse a mulher mais jovem.
- Livraria?! O que vocês foram fazer na livraria?
- Fomos comprar um livro para o Bin... todo mês, teremos de comprar um.
- Ué, mas livro para quê?! Para ler ou...
- Para ler...
A mulher mais velha olhou para o relógio na parede da pizzaria, encolheu-se como quem sente frio, e as suas palavras fabianas se perderam.
Em casa, depois de ter saboreado a pizza, estava lendo Auto de fé, do Canetti, quando me deparei com um dos pensamentos do protagonista: "Será que livros têm necessidade de comida?" Vai ver que a senhora da pizzaria estivesse preocupada que o livro novo comprado pela mulher mais jovem pudesse querer logo um pedaço da sua pizza.