Segundo reportagem da Folha de São Paulo de hoje, o grupo ao qual pertencera Dilma Roussef (a Vanguarda Popular Revolucionária - VPR) na luta contra a ditadura militar teria planejado sequestrar o então ministro Delfim Netto.
A ministra pediu à entrevistadora que registrasse sua "negativa peremptória" (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u545690.shtml) de que não tinha conhecimento do plano de seqüestro do então ministro. A jornalista da Folha, Fernanda Odilla, teria entevistado um dos ex-combatentes da VPR, hoje doutorando em Relações Internacionais pela USP, Antônio Roberto Espinosa, que teria fornecidos detalhes ("segredos que diz não ter revelado sob tortura") do plano e do conhecimento de Dilma do mesmo.
Segundo o informante da repórter, o seqüestro de Delfim Netto se daria em um sítio de amigos no interior de São Paulo, local por ele visitado. Haveria, inclusive, um mapa (feito por Espinosa) que atestaria a elaboração do plano. Procurado, Delfim Netto teria afirmado desconhecer a existência da trama de seqüestro; confirmou, porém, que freqüentava o sítio indicado.
Fora o caráter de pré-campanha eleitoral da "reportagem" (feita sob o pretexto da desmoralização de adversários políticos), algo intrigante existe sobre a figura de Delfim Netto. Deveria ser inaceitável (em um governo que se pretende de "esquerda") como o "guru", o "oráculo"* do Presidente Lula (apontado por Delfim como aquele que "salvou o capitalismo brasileiro"), um dos homens que assinaram o Ato Institucional n. 05 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-05-68.htm). Deveria ao menos haver "causado ruído" quando, em 2002, Delfim apoiou Lula (aquele de quem, segundo Regina Serra Duarte, os brasileiros deveriam ter medo); quando, em 2008, Lula indicou, em um só ato, Delfim e MV Bill para compor o Conselho de TV Pública; quando Delfim passou a escrever na Revista Carta Capital (o único semanário mais próximo do governo e de uma postura da "nova esquerda") - o fato de que ele escreva na Folha ou no Valor Econômico é menos acintoso; ou nas reiteradas vezes em que Delfim é sacralizado pela mídia como o profeta sobre os destinos brasileiros.
Na faísca de discussão pública que Tarso Genro e Paulo Vannuchi encetaram sobre a Lei de Anistia (também esta, claro, assinada por Delfim), ninguém procurou o "oráculo" de Lula (Antônio Delfim Netto) para perguntar a sua opinião. Sempre o expediente da hipocrisia ou da ausência de memória.
À "reportagem" da Folha de hoje se opõe a coragem e luci(a)cidez de Paulo Henrique Amorim (http://www2.paulohenriqueamorim.com.br/?p=8604), que, sem titubear, põe o dedo na ferida do Partido da Imprensa Golpista (PIG): "A reportagem tem a finalidade de provocar o “medo” em Regina Duarte e as “mal-amadas” (**) de Higienópolis.Esse truque - dizer que o Lula comia criancinhas - resultou em duas vitórias esmagadoras de Lula, pela mesma margem de 61% a 39% - contra Serra e Geraldo Alckmin. Lula não come criancinha nem a Dilma. Mas, a Regina Duarte vai ficar com medo, de novo. E por que a Folha (*) não faz o mea-culpa? Mudou de ideias ou de métodos? Ou nenhum dos dois? Por que a Folha (*) não confessa que usava os carros de reportagem para ajudar a torturar presos políticos como a Dilma? E sobre o José Serra? Por que ele foi para o exílio?".
Das instituições, do Estado (esse aparelho de defesa dos interesses dos 6% que concentram os meios de produção no Brasil - cf. POCHMANN, Márcio. Atlas da nova extratificação social do Brasil. São Paulo: IPEA, 2009, vol. 03), dos partidos políticos reconhecidos, das eleições, não há mesmo o que esperar (mudar o mundo é apenas um slogan para enganar o povo); nesse contexto, que se corteje um dos mentores do aparelho de repressão e desaparecimento de pessoas (instalado por todas as instituições já citadas), como se ele tivesse mesmo algo a nos dizer e legitimidade para nos representar, passa a ser tão indiferente quanto eleger Dilma (que teria, segundo Delfim, se livrado "do viés [antiprivatista] que teve no passado") ou Serra (ambos feitos no protesto à ditadura), porque seus hipotéticos projetos já não se distinguem, como não se distinguem os quereres do ex-sindicalista/perseguido pela ditadura/presidente da república Lula e do ex-ministro do governo militar/atual guru Delfim. As ilusões sobre o Estado se acentuam (e os incautos assentem, como se o neoliberalismo fosse a única alternativa oposta) e no fim, de del-fin em Delfim's, de Darwin andando** em Marx-não-lido, a história se faz como farsa.
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* Delfim Netto, em entrevista a O Estado de S. Paulo, declarou sobre essa qualificação de "conselheiro" de Lula: "Isso é história. De vez em quando, ele me honra com um convite. Vou lá e conversamos sobre o Corinthians." (cf. http://blogdofavre.ig.com.br/tag/delfim-netto/).
** Delfim afirmou na entrevista citada (cf. http://blogdofavre.ig.com.br/tag/delfim-netto/): "O Lula é um sobrevivente. O Lula é o Darwin andando. É um processo da seleção natural mesmo, e com uma vantagem: nunca leu Karl Marx."
+++ Na imagem acima (http://lutaclassista.files.wordpress.com/2008/10/combativa-manifestacao-de-repudio-a-farsa-eleitoral-realizada-pela-frente1.jpg), manifestação da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), em Rondônia.
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