sábado, 18 de julho de 2009

Homens em tempos sombrios*


RepórterEstão dizendo que essa CPI [da Petrobrás] acaba em pizza temperada com pré-sal...
LulaMeu... sabe, depende... todos eles são bons pizzaiolos.

Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) – Ele vai continuar usando e abusando da sua popularidade. Ele não tem princípios. Ele é pior do que o pior dos generais que exerceram a ditadura nesse país.

Lula (em discurso em Alagoas) – Eu quero aqui fazer justiça ao comportamento do Senador [Fernando] Collor e do Senador Renan [Calheiros], que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado.

Paulo Duque (Senador do PMDB-RJ, eleito Presidente da CPI da Petrobrás) – Confesso, hoje, uma admiração por todos os senadores desta Casa, sem restrição!

Lula (em discurso em Alagoas) – Quando eu deixar de ser Presidente da República, eu vou comprar um short novo, vou bronzear as canelas (porque nós lá de São Paulo, temos as canelas brancas, né, lá do sul do país), e vou lá no lugar que eu vi que as pessoas ficam no meio do mar, sentadas numa cadeira, tomando água de coco com outras coisas... (confira esta e todas as frases anteriores, em vídeo do Uol-notícias de 18.07.2009).

Emir Sader (no artigo “Os riscos da volta da direita”, em 16.07.2009) – Não subestimar a oposição. Pode ser fatal e facilitar o retorno da direita. Contam com toda a mídia, direção ideológica da direita brasileira. [...] A direita pode ganhar [a eleição de 2010] e se reapropriar do Estado. O governo Lula terá sido um parêntesis, dissonante em muitos aspectos essenciais dos governos das elites dominantes, que retornarão. Ou pode ser uma ponte para sair definitivamente do modelo neoliberal, superar as heranças negativas que sobrevivem, consolidar o que de novo o governo construiu e avançar na construção de um Brasil para todos. (Cf. Blog do Emir)

Luís Nassif (no artigo “O último suspiro de Serra”, de 18.07.2009) – Entenda melhor o que está por trás dessa escalada de CPIs, escândalos e tapiocas da mídia. A candidatura José Serra naufragou. Seus eleitores ainda não sabem, seus aliados desconfiam, Serra está quase convencido, mas naufragou. [...] O que dá para prever é que essa guerra [em torno da eleição de 2010] poderá impor perdas para o governo; mas não haverá a menor possibilidade de Serra se beneficiar. Apenas consolidará a convicção de que, com ele presidente, se terá um país conflagrado. Dependendo da CPI da Petrobras, aguarde nos próximos meses uma virada gradual da mídia e de seus aliados em direção a Aécio. (Cf. no Blog do Nassif
)

Vanessa Portugal (da executiva nacional do PSTU, em programa exibido na TV como Jornal do PSTU, em 16.07.2009) – É [as controvérsias entre governo e oposição] uma disputa entre iguais: tanto os partidos da oposição de direita e os do governo são marcados pela corrupção e governam para os ricos. É preciso unir os socialistas em uma frente, em 2010. Chamamos o PCB e o PSOL [excluído ficou o PCO] a vir construir essa unidade. Defendemos uma frente com um programa socialista contra a crise, sem receber dinheiro das empresas, e com os principais nomes de nossos partidos – Heloísa Helena do PSOL e Zé Maria do PSTU –, uma alternativa dos trabalhadores. ---- E em uma vinheta, Camila Lisboa, da Juventude do PSTU, conclui: O PSTU é diferente. É um partido que não está à venda. São 15 anos de luta com os trabalhadores, a classe operária e a juventude, em defesa do socialismo. (Cf. no Youtube
)

Reinaldo Azevedo (revista Veja, em texto de 18.07.2008) - O financiamento da campanha de Correa pelas Farc era tido em muitos círculos como lenda, como exagero. Bem, o filme fala por si mesmo. Agora leiam o que vai abaixo
[texto de Veja, de 16.03.2005]: Nos arquivos da Agência Brasileira de Inteligência em Brasília há um conjunto de documentos cujo conteúdo é explosivo. Os papéis, guardados no centro de documentação da Abin, mostram ligações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com militantes petistas. O principal documento nos arquivos foi datado de 25 de abril de 2002, está catalogado com o número 0095/3100 e recebeu a classificação de “secreto”. Em apenas uma folha e dividido em três parágrafos, esse documento informa que, no dia 13 de abril de 2002, um grupo de esquerdistas solidários com as Farc promoveu uma reunião político-festiva numa chácara nos arredores de Brasília. Na reunião, que teve a presença de cerca de trinta pessoas, durou mais de seis horas e acabou com um animado forró, o padre Olivério Medina, que atua como uma espécie de embaixador das Farc no Brasil, fez um anúncio pecuniário. Disse aos presentes que sua organização guerrilheira estava fazendo uma doação de 5 milhões de dólares para a campanha eleitoral de candidatos petistas de sua predileção. A notícia foi recebida com aplausos pela platéia. Faltavam então menos de seis meses para a eleição. Um agente da Abin, infiltrado na reunião, ouviu tudo, fez um informe a seus chefes, e assim chegou à Abin a primeira notícia de que as relações entre militantes esquerdistas, alguns deles petistas, e as Farc podem ter ultrapassado a mera simpatia ideológica e chegado ao pantanoso terreno financeiro. (Cf. na página de Veja
)

Immanuel Walertein (professor da Universidade de Yale, EUA, no jornal Folha de S. Paulo, de 15.03.2009) – Chegamos a um momento em que nem os capitalistas prescientes, nem seus adversários (nós), estamos tentando preservar o sistema. Estamos ambos tentando estabelecer um sistema novo, mas é claro que temos ideias muito diferentes -na verdade, radicalmente opostas- quanto à natureza de tal sistema. [...]O que queremos de Obama não é transformação social. Ele não deseja nem é capaz de nos oferecer isso. Queremos dele medidas que minimizem a dor e o sofrimento da maioria das pessoas neste momento. Isso ele pode fazer, e é com relação a isso que a aplicação de pressões sobre ele pode fazer uma diferença. [...]O que a esquerda deve fazer? Promover a clareza intelectual em relação à escolha fundamental. Então organizar-se em mil níveis e de mil maneiras para empurrar as coisas na direção certa. A primeira coisa a fazer é incentivar a descomoditização, no maior grau que conseguirmos. A segunda é fazer experimentos com toda espécie de novas estruturas que façam mais sentido, em termos de justiça global e sanidade ecológica. E a terceira coisa que precisamos fazer é incentivar o otimismo realista. A vitória está muito longe de ser certa. Mas é possível. Resumindo, então: trabalhar no curto prazo para minimizar o sofrimento, e no médio prazo para assegurar que o novo sistema que vai emergir seja um sistema melhor, e não pior. Mas fazer este último sem triunfalismo e com a consciência de que a luta será tremendamente difícil. (Cf. no Blog do Mandato do Deputado Ivan Valente - PSOL/SP
)

Creyto da Mutinga (para sua “mina”, em bar da zona norte de Osasco/SP, depois de ter andado lendo O que é isso companheiro?, de Fernando Gabeira): Qualeh, ceh tah de caoh pra cima de mim... (Cf. manifestação musical do problema)


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* O título é o mesmo do livro de Hannah Arendt, publicado em 1951 e remete ao poema "Tempos sombrios", de Bertold Brecht.

- A imagem exibida com o texto foi apropriada do Blog Dança da Solidão.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

"Me dá um dinheiro aí!" ou as tetas do BNDES



O diagnóstico de Marx e Engels, feito em 1848 (e desenvolvido n’O Capital), permanece renitentemente atual – Um governo moderno é tão-somente um comitê que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa (1). Os puristas vão dizer que Marx e Engels se referiam ao Estado nascente, que não há mais pertinência em falarmos em “classe social” (apesar de todos os mainardes e reinaldazavedos arrotarem um naturalizado escalonamento que preenche as primeiras cinco letras do alfabeto). Interessa-me tratar de algo banal e que, no entanto, mostra como o aparato estatal (sob o império da economia e do direito) atua (melhor dizendo, milita), utilizando as esferas públicas para a defesa de interesses privados, isto é restritos aos “donos do poder”.
Não podem ter os brasileiros se esquecido de que o imparcial e técnico (defensor irascível de algo que denomina “Estado de Direito” sem explicitar o conteúdo) presidente da máxima corte do Judiciário brasileiro chamou para si a mídia a fim de estabelecer uma cruzada em defesa do “Estado de Direito”, cujo conteúdo acabou sendo por ele explicitado em uma só frase: “É fundamental que não haja invasão da propriedade privada ou pública, e a Justiça tem meios e modos para dar uma resposta serena, mas firme, ao que está ocorrendo.”
Na ocasião, o presidente do Supremo Tribunal Federal se prestava a condenar o MST (e quaisquer outros movimentos sociais) que, segundo ele, seria financiado com dinheiro público, representando esse suposto subsídio em ilicitude praticada pelo próprio Governo. Embora a revista Carta Capital tenha mostrado evidências de negócios – incompatíveis com a função – levados adiante pelo próprio ministro Gilmar Mendes, suas palavras adquiriram força e foram prontamente apoiadas pelos presidentes da Câmara dos Deputados (Michel Temer) e do Senado Federal (José Sarney),além de outros “representantes do povo”, radicados em Brasília às custas do dinheiro público.
A lógica intrínseca da divisão entre público e privado nos levará à constatação singela de que o público não é senão a outra face do privado; bem como, o Estado (e o seu direito) não é mais do que a manutenção de uma determinada “ordem” estabelecida (a “paz social” aclamada por Gilmar Mendes na condenação ao MST).
Logo após a condenação do Presidente do STF (“A lei é muito clara. Não pode haver dinheiro público para subsidiar tais movimentos, que agem contra o Estado de direito. Dinheiro público para subsidiar ilicitude é ilicitude.” – cf. aqui) de que dinheiro público (dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Social – BNDES) não pode ser utilizado para financiar grupos que “atentam contra o Estado de Direito”, chamou a atenção a demanda por uma linha de crédito perante o BNDES. As universidades privadas – que desde 2007 tem procedido à abertura de capital na Bolsa de Valores –, invocando perdas decorrentes da “crise financeira mundial”, pleiteavam “uma linha especial de financiamento, com recursos públicos, para a área” (confira). A esse respeito (ainda que evidente a adesão das universidades às tramas especulativas da bolsa de valores), nem os presidentes do STF nem do Congresso disseram nada. A utilização de dinheiro público para financiar grupos que prestam “relevantes” serviços de interesse público, com a Globo, não é desconhecida.
Esta semana, o BNDES destinou 1,5 bilhão de reais à Gerdau, para “modernização e ampliação” (nos termos d’O Estado de São Paulo) das suas atividades de siderurgia, representando (novamente nos termos d’O Estado) “apoio do BNDES aos investimentos [da Gerdau]”. A Gerdau também tem capital aberto na bolsa de valores e constitui um dos mais ricos grupos econômicos brasileiros, responsáveis por, dentre outras, iniciativas, financiar campanhas políticas. Novamente, os presidentes do STF, do Senado e da Câmara disseram nada. Pressupõe-se que, nesses casos, a utilização do dinheiro público é legítima e legal.
Os argumentos para esse silêncio são simples – os grandes grupos empregam muitas pessoas (não discutamos os salários), representam importante giro econômico, daí porque ser importante subsidiá-los. Já grupos de trabalhadores sem-terra, além de hipoteticamente não serem economicamente produtivos ou sê-lo de modo parco, seriam aqueles cujas ações seriam atentatórias ao “Estado de Direito”.
Ora, que impacto teria a ação dos movimentos sociais (que, segundo o Min. Gilmar, tem “toda a liberdade para agir, manifestar, protestar, mas respeitando sempre o direito de outrem.”) se estes atuassem dentro da legalidade? Se essa legalidade é expressão da manutenção da “paz social” (querida pelo ministro), como repartir a terra, por exemplo, sem contestar a lei? E ainda mais: se a lei estivesse efetivamente sendo observada, o mínimo a ser cumprido seria o direito fundamental à propriedade e à sua função social (procedimentos estes todos compreendidos dentro lógica do público e do privado). Mais que isso: como possibilitar que os sem-terra se insiram na cadeia produtiva se não contarem com financiamento?
Obviamente, o ministro do STF dirá que não se opõe ao financiamento da pequena propriedade rural, mas que os grupos que a reivindicam tem se dedicado à ilegalidade, o que impossibilita que sejam subsidiados. Só para lembrar – somente em 2008, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), as empresas brasileiras sonegaram cerca de 200 bilhões de reais, o que corresponde a quase 10% do PIB. E então, será que a ilegalidade é atributo exclusivo dos movimentos sociais? Se o presidente do STF estivesse mesmo preocupado com a destinação dos recursos públicos administrados pelo BNDES, não teria de questionar as subvenções dadas a grandes grupos econômicos que se guiam pela especulação de capital na bolsa de valores?
Como já haviam compreendido Marx e Engels há 150 anos, o que há de “comum” nos aparatos do Estado é apenas a defesa dos interesses daqueles que detém o monopólio dos meios de produção. A construção das constituições, a criação de leis e sua aplicação, a organização das instituições políticas não se fazem fora de um modo de produção e sua historicidade. Atualmente, porém, ficam todos (sob pena de redução à mais solene incompetência!) proibidos de tentar compreender esses elementos todos segundo a noção de ideologia.

(1). MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. (Trad. Sueli Tomazini B. Cassal). Porto Alegre: L&PM, 2007, p. 26.

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Aliás, é pertinente publicar aqui a representação que o jornalista Paulo Henrique Amorim encaminhou ao Ministério Público Federal, demandando investigação da atuação de alguns grandes grupos econômicos:




São Paulo, 12 de junho, 2008



Eu, Paulo Henrique Amorim, cidadão brasileiro, … entro com essa REPRESENTAÇÃO no Ministério Público Federal – São Paulo, por suspeita de MALVERSAÇÃO DE FUNDOS PÚBLICOS e de PREVARICAÇÃO contra o Ministro da Fazenda, contra os diretores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), contra o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e os diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Anatel para que se promova a CESSAÇÃO DA CONDUTA, a APLICAÇÃO DAS MULTAS cabíveis, e a abertura de AÇÃO CÍVEL PÚBLICA .
I) Notícia que resume os motivos a sustentar essa REPRESENTAÇÃO:
O que é a “BrOi” ?Daniel Dantas e os empresários Carlos Jereissati e Sergio Andrade – donos da Telemar/Oi – acharam um jeito de tomar dinheiro dos trouxas – o maior deles é o BNDES, subordinado ao Ministro do Desenvolvimento – e comprar a Brasil Telecom.Com isso, vão ficar com o monopólio (70%) da telefonia fixa do Brasil, fora São Paulo, que é explorado pela Telefónica.Depois de manipular as ações na Bolsa com notícias falsas sobre a criação da empresa, e antes que a regulamentação – porque o Plano Geral de Outorgas não permite a criação da “BrOi” -, Dantas conseguiu:1) Que os fundos de pensão que controlavam a Brasil Telecom – Previ (dos trabalhadores do banco do Brasil), Petros (dos trabalhadores da Petrobrás) e Funcef (dos trabalhadores da Caixa Econômica) – retirassem da Justiça as ações que moveram contra Dantas por “gestão temerária”;2) Que o Citibank, sócio da Brasil Telecom, retirasse da Justiça de Nova York as ações que movia contra Dantas por “gestão temerária”.3) Que a própria Brasil Telecom retirasse as ações que tinha com o Opportuniy;4) Que o BNDES se comprometesse a dar a Jereissati e a Andrade a grana para que os dois comprassem – sem botar um tusta do próprio bolso – a Brasil Telecom; comprassem a parte dos outros sócios na “Telemar/Oi”; e pagassem um cala-a-boca a Dantas, para que ele saísse de fininho da Brasil da Telecom e da Oi – onde ainda tinha participação minoritária. Dantas receberá um cala-a-boca de R$ 1 bilhão, coisa pouca… Parte virá da Brasil Telecom, parte da Telemar/Oi. Ou melhor, virá TUDO do BNDES.Convém lembrar, nessa notícia, que um filho do Presidente da República é sócio da Telemar/Oi numa empresa chamada “Gamecorp”. Ela produz conteúdo para celulares da Oi, jogos, e recentemente entrou no ramo de televisão, com a TV Bandeirantes.Paulo Henrique Amorim se candidatou a comprar a Brasil Telecom, através de sua empresa PHA Comunicação S/C Ltda, CNPJ 01681373/0001/-38, nas seguintes condições: a PHA daria R$ 1 a mais do que dessem os empresários Carlos Jereissati e Sergio Andrade, DO PRÓPRIO BOLSO.
O BNDES ignorou a proposta.Um presidente de fundo disse ao respeitado jornalista Rubens Glasberg que fez acordo com Dantas como, na favela, se faz acordo com o chefe do tráfico para poder viver em paz.O BNDES é suspeito de praticar malversação de fundos públicos, uma vez que o BNDES é o único que vai entrar com dinheiro nessa história.Quando o BNDES explica a operação, diz que não vai dar dinheiro para que os sócios da Telemar/Oi comprem a Brasil Telecom. Mas, sim, usar dinheiro que já existia no caixa do BNDES para promover a “recomposição acionária” dentro da Telemar/Oi.Promover a “recomposição acionária” significa dar dinheiro.O dinheiro do BNDES vem do Tesouro Nacional e do FAT, dinheiro dos trabalhadores brasileiros.Como não há “geração espontânea” de dinheiro, é do Tesouro Nacional e do FAT que Carlos Jereissati, Sergio Andrade e Daniel Dantas receberão o dinheiro.O BNDES justifica a criação da “BrOi” com o argumento de que é preciso criar uma super-tele de capital nacional, para enfrentar os estrangeiros e competir no mercado internacional.Quem disse que a Brasil Telecom e a Telemar/Oi não podem enfrentar os estrangeiros ?Qual é o problema “enfrentar os estrangeiros” ?(Veja anexas as 52 perguntas que Rubens Glasberg fez sobre a “BrOi”.)Por que as duas empresas não criam uma subsidiária com o fim precípuo de competir no mercado internacional. – e só lá ?Com o dinheiro do BNDES – quer dizer, do Tesouro Nacional e do FAT – , a Telemar/Oi vai pagar um “cala-a-boca” a Daniel Dantas, embora a Telemar/Oi não seja parte de nenhuma pendência judicial com Dantas.Por que o BNDES vai ajudar a “recompor” das finanças de Daniel Dantas, via Telemar/Oi ?Qual a lógica disso ?Como explicar isso ao Tribunal de Contas da União ?
Malversação de fundos públicos é do que se pode acusar, também, o Banco do Brasil, que é sócio da Telemar/Oi.
Prevaricação é o crime da Comissão de Valores Mobiliários, subordinada ao Ministro da Fazenda, e da Anatel.A Anatel vai modificar a Plano Geral de Outorgas – PGO – apenas para criar a “BrOi”.Muda-se a lei “sob encomenda”, para que dois empresários tenham o monopólio da telefonia fixa do país !!! Sem entrar com um tusta !!!A Comissão de Valores Mobiliários calou-se diante dos seguintes fatos:1) Da manipulação das ações da Brasil Telecom e da Telemar/Oi na Bolsa com as notícias que os empresários e Daniel Dantas plantavam na mídia.Primeiro, os empresários e seus empregados negavam a operação da “BrOi”.Depois, as empresas diziam que os acionistas é que tinham que falar.Os acionistas negavam a operação.E a CVM não dizia um “ai”.2) A CVM se calou também diante da óbvia operação “Zé com Zé” que houve entre a Brasil Telecom, os fundos Previ, Petros e Funcef, o fundo AG Angra e Sergio Andrade.A operação funcionou assim:
Os fundos de pensão – Previ, Petros e Funcef – mandaram Daniel Dantas embora da Brasil Telecom e colocaram no lugar um dos sócios do fundo Angra, o Sr. Ricardo K.
O Angra, na Brasil Telecom, defende os interesses dos fundos de pensão.
Acontece que o Angra tem um fundo – o “AG Angra” – em sociedade com a “AG” – Andrade Gutierrez.
O dinheiro do “AG Angra” vem dos fundos de pensão, que são os donos da Brasil Telecom.
A Andrade Gutierrez não botou um tusta no AG Angra.
Tenho informação – a confirmar – que a remuneração pela gestão (“management fee”) que os fundos pagam ao AG Angra é de R$ 1 milhão por mês.
R$ 1 milhão por mês ? Por que ? Se o AG Angra, aparentemente, ainda não aplicou em nenhum investimento em infra-estrutura.
Gerir o quê ?
Esquisito.
O Angra está na Brasil Telecom, e no AG Angra.
Os fundos estão na Brasil Telecom, no AG Angra, e vão ser sócios de Sergio Andrade na “BrOi”.
O Angra tem que defender os fundos na Brasil Telecom.
O Angra tem que defender a Andrade Gutierrez no AG Angra.
O Angra tem que vender a Brasil Telecom por um bom preço, para os fundos ficarem felizes.
E tem que vender a Brasil Telecom à Telemar/Oi por um preço baixo, para o Sergio Andrade ficar feliz.
E tem que vender por qualquer preço – e rápido – para os sócios do Sr. K no Angra ficarem felizes.
Porque, depois da “BrOi”, o sr. K voltará ao Angra.
Isso configura “conflito de interesse” ou um gigantesco “encontro bem remunerado de interesses”.
Como se diz na Bolsa, é um “Zé com Zé”.
E todos os “Zé” saem bem dessa: o Angra, o Sr. K, o Sr. Andrade, e os fundos.
Quem sai bem mesmo é Daniel Dantas, que recebe um cala-a-boca de quase US$ 1 bilhão para sair da Telemar e da BrT e não processar mais ninguém.
E quem perde com isso ?
O BNDES, que entra com o dinheiro – e mais ninguém.
Perdem os fundos, porque o dinheiro deles – dos trabalhadores do Banco do Brasil, da Petrobrás e da Caixa Econômica – é administrado por “administradores” que pensam, antes, no bolso deles (“administradores”).
Perdem os fundos, porque o dinheiro deles é administrado por gente que tem “conflitos de interesse”.
Qual conflito de interesse ?
. O conflito entre os interesses dos fundos e os interesses dos “administradores”, como o Sr K.
“Administradores”, como foi, no passado, Daniel Dantas.
. Quem perde também – e acima de tudo – é o consumidor, porque a “BrOi” ficará com 70% do mercado de telefonia fixa do país.
E o que a CVM fez diante desse “Zé com Zé”, em que o Tesouro Nacional, o FAT e o consumidor é que pagam o pato ?
Nada.
5) A CVM não interpelou a Telemar/Oi para saber por que vai pagar um “cala-a-boca” a Daniel Dantas por conta da suspensão de pendências judiciais, se a Telemar/Oi não é parte dessas ações ?
A Telemar/Oi é uma empresa de capital aberto e os acionistas minoritários deveriam saber por que pagar por um acordo que não lhes diz respeito ?
6) A CVM não deu seqüência às representações de “gestão temerária” que a Brasil Telecom fez contra Daniel Dantas, quando gestor da Brasil Telecom.
Por acaso a CVM também fez um acordo de “apagar a pedra” com os processos judiciais que corriam contra Dantas ?
II) Seguem anexos os seguintes documentos:
1) Comunicado conjunto das empresas Brasil Telecom e Telemar/Oi sobre como será a operação;
2) Noticia da Assembléia de acionistas da Brasil Telecom que faz cessar as ações contra Daniel Dantas na Justiça;
3) Comunicados das empresas Brasil Telecom e Telemar/Oi à CVM que tratam da “recomposição acionária” da Telemar/Oi e não explicam de onde vem o dinheiro da “recomposição acionária” e como vão pagar o cala-a-boca de Daniel Dantas;
4) Editorial “O Silêncio Ensurdecedor”, de autoria de Rubens Glasberg, na Teletime News;
5) As 52 perguntas que Glasberg formulou sobre a “BrOi” e que jamais mereceram resposta de qualquer dos envolvidos na operação.
6) Resumo das ações da Brasil Telecom contra Daniel Dantas na CVM;
7) Resumo das ações da Brasil Telecom contra Daniel Dantas na Corte de Nova York;
8- Resumo das ações do Citibank contra Daniel Dantas na Corte de Nova York.


Atenciosamente, o cidadão desta pobre República,



Paulo Henrique Amorim


terça-feira, 7 de julho de 2009

Univisa e Unimastercard: licenciatura em dez parcelas


06 de julho de 2009, zona sul de São Paulo. Na fila da tesouraria de uma universidade privada, o "cliente" (aluno) se dirige ao balcão.

- Negociei a minha dívida com a faculdade e...

- São esses dois cheques aqui... - diz a atendente.

- Sim, mas eu quero lhe perguntar uma coisa - interrompe o jovem -: é possível fazer o pagamento da dívida com cartão de crédito? Parcelar no cartão de crédito?

sábado, 4 de julho de 2009

O alcoviteiro universal: "chame a polícia!"


"Em 1919, em um de seus famosos e divertidos happenings, os dadaístas berlinenses promoveram uma corrida pública entre uma máquina de escrever e uma máquina de costura. Enquanto Raoul Hausmann costurava uma fita de crepe interminável, Richard Huelsenbeck datilografava desesperadamente folha após folha um texto incompreensível. Finda a corrida, o júri deu a vitória à máquina de costura, provocando o protesto de Huelsenbeck, que atirou sua máquina ao chão.

O aparente nonsense do happening dadaísta ilustra um aspecto pouco considerado da comunicação humana: a escrita e o tempo criado por ela, inauguradores não apenas de toda uma importante era da palavra visual, mas também instrumentos da conquista de um tempo lento."


BAITELLO JUNIOR, Norval. O tempo lento e o espaço nulo. Mídia primária, secundária e terciária. (p. 04)
Disponível na pàgina virtual da FAPESP; acesso realizado em 04.06.2009.


Assistindo a um dos nenhum pouco recomendáveis telejornais brasileiros (o SPTV - 2ª edição), deparei-me com uma "notícia" que, instantaneamente, remeteu-me à corrida dadaísta de 1919, entre uma máquina de escrever e uma máquina de costura. Não tanto pela questão estético-literária (de resto inexistente na "notícia" do telejornal), mas sim pelo happening involuntário que os assaltantes do caixa eletrônico de um banco (posto em um supermercado) protagonizaram no limiar entre a noite passada e o dia de hoje.

Segundo o telejornal, quinze homens (imagine a proporção da mobilização) se dedicaram a render, durante a madrugada passada, na zona sul de São Paulo, os guardas e colocar o caixa eletrônico (um monstro metálico de cerca de 300 quilos) dentro de um furgão. Ao sair em alta velocidade e passar por uma lombada de uma pacata rua de Cidade Dutra, o caixa eletrônico caiu do carro. Os assaltantes fugiram e deixaram o caixa do Banco do Brasil tombado no meio da rua.

Além do barulho que teria causado grande susto e acordado moradores da rua, o mais inusitado (e daí o happening involuntário, de sentidos dadaístas) era uma sirene de alarme e uma voz masculina grave pronunciando uma mensagem grave:

"- Atenção! Esta máquina está sendo roubada! Por favor, chame a polícia!"

Uma senhora disse à reportagem:"Nunca vi um [caixa eletrônico] assim na rua, só vejo no banco..."

Literalmente, os moradores daquela rua souberam (acordando assustados) o que é bank home - jargão publicitário de vários bancos. Receberam o banco na porta de casa. Quantos, necessitados de um dinheirinho, não terão se frustrado ao ver que do monstrengo metálico nenhuma cédula, nenhuma pataca caíra, nada; pior que isso, a mensagem defensora da propriedade, "chame a polícia!" Os próprios assaltantes (depois do esforço de uma população de quinze homens) - apuraria a perícia - não levaram nada, pataca alguma.

Esta semana, indo até a agência do banco que tem os maiores lucros da América Latina, fui barrado sucessivas vezes, depois de ter tirado chaves, caneta, tudo. Iria encontrar minha companheira, que estava nos intestinos daquele monstro, filiando-se às suas "facilidades" para receber um suado salariozinho. Depois que eu saíra dali emputecido, ela me diria: "[...] mas é que eles foram assaltados hoje..." E eu: "é sorte deles que eu nada saiba de explosivos."

Os moradores da pacata rua da zona sul da cidade, ao ver o aviltante dinheiro do banco, vestido de carapaça metálica, diante das suas casas, certamente terão tido o desejo do saque sem culpa, a vingança gostosa de diminuir o pernicioso lucro bancário (isso que é mínimo, já que "diminuir lucros" nada afeta; alguma providência drástica teria de levá-los ao prejuízo). Não o saque com senhas e administrado por letras e datas de nascimento, mas o saque filho de "saquear", sem limites e sem taxas de juros.

O estrondo do caixa eltrônico no meio da rua e sua sirene com a mensagem de voz (que terá causado dor de cabeça a muitos moradores) bem mereceriam um Bertold Brecht caminhando por ali, para propor uma pergunta estranha aos telejornais e ao ramerrão das ocorrências policiais: "O que é roubar um banco em comparação com fundar um banco?"