Podemos não concordar Lula (e isso é fácil diante de várias das suas atitudes), mas negar sua inteligência (não nos reportaremos, neste instante, ao modo como ela vem sendo empregada) é afirmar-se parvo. Pois bem, há quem, como Diogo Mainardi, se dedique a publicar um livro somente para chamar Lula de "anta".
Houve quem se surpreendesse pelo fato de Lula não protestar contra o livro do demo-tucano-panfletário. Mais uma prova da inteligência do presidente: Mainardi, reiteradamente, confessa não apenas o nível da sua "inteligência", mas põe Montaigne entre os bovinos e revela o quanto é portador de uma "consciência" colonizada (razão porque não passa de um colonista, termo cunhado por Paulo Henrique Amorim).
Basta ver o desperdício de tinta e papel:
Eu tenho um profundo respeito pelos ratos venezianos. Um respeito que beira a vassalagem. Eles, por sua vez, me tratam com certa soberba. Eu entendo. Os ratos venezianos pertencem a uma estirpe nobre. O impacto que seus antepassados - rattus rattus - tiveram no desenvolvimento das artes foi incomensuravelmente maior do que o de todos nós - brasileiros brasileiros - em mais de 500 anos de história.
A igreja do Redentor é obra dos ratos venezianos. Melhor dizendo: a igreja do Redentor é obra de Andrea Palladio [...] mas só foi erguida para comemorar o fim de uma epidemia de peste, em 1576.
[...]
Michel de Montaigne passou por Veneza em 1580, quatro anos depois da epidemia que inspirou a igreja do Redentor. Ele associou a peste ao mal cheiro dos canais venezianos, ignorando o papel dos ratos no contágio. Nos Ensaios ele filosofou que filosofar é aprender a aceitar a própria morte. Nisso ninguém supera os brasileiros. Nós morreremos pacatamente, resignadamente, bovinamente, sem atribuir responsabilidades pelas epidemias, sem protestar contra o ministro da Saúde, sem jogar tomates no presidente da República. No Brasil, falta um Andrea Palladio, falta um Baldassare Longhena. Falta também Tamiflu. Por outro lado, morreremos melhor do que os outros. Morreremos como Montaigne.
MAINARDI, Diogo. A Veneza dos ratos, Veja, 05 de agosto de 2009, p. 155.
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