quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Bandeira no lixo


Minha mãe tem 55 anos de idade e está no 1º ano do ensino médio de uma escola estadual da periferia de Osasco. Atualmente, anda muito preocupada sobre "por que os expressionistas se suicidavam". Hoje ela trouxe para casa a Antologia Poética de Manuel Bandeira. Contou que a professora deu exemplares do livro com ressalvas: na última semana, havia dado o mesmo livro a alunos de outra sala e eles tinham atirado os livros na lixeira.

E, abrindo o livro, Bandeira me diz: "Vão demolir esta casa./ Mas meu quarto vai ficar,/ Não como forma imperfeita/ Neste mundo de aparências:/ Vai ficar na eternidade,/ Com seus livros, com seus quadros,/ Intacto, suspenso no ar."
E olhando de lado, vejo Charles Baudelaire cheio de razão:
"– Meu belo cão, meu cãozinho, meu querido totó, vem cá, vem respirar um excelente perfume comprado no melhor perfumista da cidade.
E o cão, agitando a cauda, o que é, suponho, entre esses pobres seres, o sinal correspondente ao riso e ao sorriso, aproxima-se e, curioso, mete o nariz úmido no frasco destampado; porém subitamente, recuando de susto, late contra mim, à feição de reprimenda.
– Ah, miserável cão!, se eu te houvesse oferecido um embrulho de excremento, decerto o cheirarias com delícia e talvez o tivesses devorado. Assim, ó indigno companheiro de minha triste vida, tu te assemelhas ao público, a quem nunca se devem apresentar perfumes delicados, que o exasperam, mas imundícies cuidadosamente escolhidas."
* Na foto, Manuel Bandeira, com seus livros.

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