Não adiantam os discursos moralistas e sentimentalistas – em nossa sociedade o fundo para se compreender as aberrações é, quase sempre, a propriedade privada. Dentro da lógica da crítica epidérmica já se disse, sob categorias ínsitas à propriedade privada, que “a propriedade é um roubo!”. Nossa renitente referência à disseminada mentalidade da dondocagem politicamente correta, antes de ser uma referência moralista, expressa o estágio atual da ideologia dissimulada, dentre outras vestes, sob a máscara da piedade liberal.
Recentemente, dia 16 de agosto último (cf. texto), em São Paulo, a loja Daslu (há pouco tempo pega em sonegação fiscal em importações) realizou um leilão entre celebridades e consumidores de luxo, cuja renda seria revertida para certa “Escola do Povo”, em que dondocas com má-consciência se dedicam a pretensos projetos de alfabetização no bairro de Paraisópolis, cidade de São Paulo. Que a Daslu – mesmo após os crimes e a rapidíssima prisão de sua dona – continue em operação (aliás, diga-se que, sob a mira da justiça, as atividades da loja declinaram ao ponto de se falar em falência) somente o fato de termos uma justiça de classe explicará; se a lei fosse mesmo aplicada sob os mesmos rigores com que se punem, por exemplo, os moradores de regiões pobres como Paraisópolis, certamente a loja já teria desaparecido. Mas, indo adiante, não seria de abespinhar que uma boutique de luxo, restrita a consumidoras de luxo (como ficou demonstrado no caso dos quatrocentos vestidos de Dona Lu Alckmin), se desse ao trabalho de realizar um leilão – cuja peça inicial seria um terno feito por famoso estilista para o presidente Lula, com lance mínimo de R$ 100 mil – para destinar recursos à alfabetização dos pobres de Paraisópolis?
Isto seria de pasmar se não estivéssemos em tempos que se fala em “ética empresarial” e em outras coisas semelhantemente fantasiosas, como “responsabilidade social”. Sim, mas mesmo assim, será que a Daslu – em tempos de vacas magras, quando se fala até em falência – se daria ao trabalho de fazer um leilão apenas para parecer solidária, preocupada com os problemas sociais? Seria muita ingenuidade acreditar em semelhante hipótese.
Dissemos que o terno do presidente foi posto em leilão pela bagatela de R$ 100 mil. Não demorou para que o maior concentrador de renda do Brasil, Eike Batista, arrematasse o terno por meio milhão de reais.
Durante exibição de um vídeo sobre Paraisópolis, porém, o interesse pelos moradores em prol da alfabetização de quem a renda seria revertida, ficou evidente – a dondocagem conversava à solta sobre suas reais preocupações, o relógio do Faustão, o chapéu de Sérgio Reis, a camisa de Kaká... A um canto, uma dondoca chamada Beth Szafir diz a uma coluna social que “dá pena, dá pena mesmo” do povo de Paraisópolis.
É isso, pena, o máximo que a dondocagem consegue exprimir em relação aos pobres. Além desse conservadorismo, exprime-se nas palavras de um dos dondocas que brincava de medir o pinto com Eike Batista, José Carlos Semenzato, tentando ver quem arrematava mais bandulaques:
“–Se a gente investir na alfabetização dessas pessoas [dos pobres], vamos economizar muito em segurança para nossos filhos e netos."
Pronto, está aí a explicação para todo o circo, para toda aquela “generosidade”. Trata-se de “investir” em educar os pobres para a servidão, para que passem a saber o seu lugar (os subterrâneos de sempre) e não ousem atacar a propriedade privada, que o instituto fundamental da herança cuidará de transmitir a seus filhos e netos. Ainda que a arrecadação de pouco mais de R$ 2 milhões (dobrada por Eike) seja uma soma alta, para aqueles que a fizeram tratava-se apenas das migalhas convenientes à piedade liberal, como forma de perpetuar a concentração da riqueza e, conseqüentemente, a desigualdade social.
Sob a piedade que guia os donativos há a estratégia oculta de perpetuação da propriedade privada (e seu sucedâneo, a desigualdade), dissuadindo o eventual desafio dos pobres.
Recentemente, dia 16 de agosto último (cf. texto), em São Paulo, a loja Daslu (há pouco tempo pega em sonegação fiscal em importações) realizou um leilão entre celebridades e consumidores de luxo, cuja renda seria revertida para certa “Escola do Povo”, em que dondocas com má-consciência se dedicam a pretensos projetos de alfabetização no bairro de Paraisópolis, cidade de São Paulo. Que a Daslu – mesmo após os crimes e a rapidíssima prisão de sua dona – continue em operação (aliás, diga-se que, sob a mira da justiça, as atividades da loja declinaram ao ponto de se falar em falência) somente o fato de termos uma justiça de classe explicará; se a lei fosse mesmo aplicada sob os mesmos rigores com que se punem, por exemplo, os moradores de regiões pobres como Paraisópolis, certamente a loja já teria desaparecido. Mas, indo adiante, não seria de abespinhar que uma boutique de luxo, restrita a consumidoras de luxo (como ficou demonstrado no caso dos quatrocentos vestidos de Dona Lu Alckmin), se desse ao trabalho de realizar um leilão – cuja peça inicial seria um terno feito por famoso estilista para o presidente Lula, com lance mínimo de R$ 100 mil – para destinar recursos à alfabetização dos pobres de Paraisópolis?
Isto seria de pasmar se não estivéssemos em tempos que se fala em “ética empresarial” e em outras coisas semelhantemente fantasiosas, como “responsabilidade social”. Sim, mas mesmo assim, será que a Daslu – em tempos de vacas magras, quando se fala até em falência – se daria ao trabalho de fazer um leilão apenas para parecer solidária, preocupada com os problemas sociais? Seria muita ingenuidade acreditar em semelhante hipótese.
Dissemos que o terno do presidente foi posto em leilão pela bagatela de R$ 100 mil. Não demorou para que o maior concentrador de renda do Brasil, Eike Batista, arrematasse o terno por meio milhão de reais.
Durante exibição de um vídeo sobre Paraisópolis, porém, o interesse pelos moradores em prol da alfabetização de quem a renda seria revertida, ficou evidente – a dondocagem conversava à solta sobre suas reais preocupações, o relógio do Faustão, o chapéu de Sérgio Reis, a camisa de Kaká... A um canto, uma dondoca chamada Beth Szafir diz a uma coluna social que “dá pena, dá pena mesmo” do povo de Paraisópolis.
É isso, pena, o máximo que a dondocagem consegue exprimir em relação aos pobres. Além desse conservadorismo, exprime-se nas palavras de um dos dondocas que brincava de medir o pinto com Eike Batista, José Carlos Semenzato, tentando ver quem arrematava mais bandulaques:
“–Se a gente investir na alfabetização dessas pessoas [dos pobres], vamos economizar muito em segurança para nossos filhos e netos."
Pronto, está aí a explicação para todo o circo, para toda aquela “generosidade”. Trata-se de “investir” em educar os pobres para a servidão, para que passem a saber o seu lugar (os subterrâneos de sempre) e não ousem atacar a propriedade privada, que o instituto fundamental da herança cuidará de transmitir a seus filhos e netos. Ainda que a arrecadação de pouco mais de R$ 2 milhões (dobrada por Eike) seja uma soma alta, para aqueles que a fizeram tratava-se apenas das migalhas convenientes à piedade liberal, como forma de perpetuar a concentração da riqueza e, conseqüentemente, a desigualdade social.
Sob a piedade que guia os donativos há a estratégia oculta de perpetuação da propriedade privada (e seu sucedâneo, a desigualdade), dissuadindo o eventual desafio dos pobres.
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